“Para mim, esse cara nunca esteve ali”, diz autor de Todas as Flores sobre ator preso por pedofilia

Autor também falou sobre suas vilãs e sua fórmula diferenciada da maioria dos folhetins

Todas as Flores não precisou exibir sequer um capítulo para virar assunto, graças a controversa escolha de sua protagonista e o azar de ter um membro de seu elenco preso, polêmicas que foram comentadas por seu autor, João Emanuel Carneiro.

O escritor da novela conversou com o jornal O Globo recentemente e falou sobre o fato de ter como protagonista uma personagem cega, mas ter escolhido uma atriz que não tem a mesma deficiência para interpretá-la.

“Decisão de elenco não é só minha. Mas vamos abordar a questão da pessoa com deficiência também em outros personagens. Vai ser a primeira novela a ter audiodescrição. Sou comunicado e, às vezes, posso dar uma opinião ou outra, mas não escolho mais como antigamente” ele se defendeu.

Cena do teaser de Todas as Flores (Reprodução Youtube)

Indagado sobre o que mudou e se as mudanças facilitaram ou dificultaram seu trabalho, o escritor respondeu de forma objetiva, mas sem conseguir evitar brincar com as vantagens de sua nova situação.

“A televisão mudou. Produtores de elenco, diretores da Globo, eles escolhem. Posso propor uma coisa ou outra, participar, mas é outra coisa. Em certo sentido é uma responsabilidade mais compartilhada do que dá certo ou errado. Antes era só minha. Dividiu bastante. O importante é que, quando dá errado, não é só eu”, ele respondeu rindo.

José Dumont em cena de Velho Chico (Reprodução Globo)

Ao ser questionado sobre sua reação a prisão de José Dumont (por pedofilia), que era membro de seu elenco, João Emanuel reagiu com um certo desdém.

“Não vi cena nenhuma gravada com ele, não o conhecia. E quer saber a verdade? Até eu assistir às cenas, os personagens não tem a cara de atores. Eles são o que eu imagino na minha cabeça. Quando começo a assistir, aí realmente ganham o rosto do ator. Para mim, esse cara nunca esteve ali. Nunca escrevi papéis para atores. Eles têm que se adaptar aos meus personagens. E acho que o timing (da prisão) desse José Dumont foi até uma certa sorte. Podia ter sido com o negócio no ar”, ele disse.

Leticia Colin como Vanessa, e Sophie Charlotte como Maíra em Todas as Flores
Leticia Colin como Vanessa, e Sophie Charlotte como Maíra em Todas as Flores (Reprodução/ Globoplay)

Voltando o assunto para a trama da novela e seus personagens, o novelista ressaltou o fato de colocar como vilã, uma pessoa em uma situação que normalmente não é das malvadas.

“Muitos espectadores ficam meio perplexos de terem que se questionar em relação aos meus personagens. Geralmente, um folhetim é doutrinário: uma é boa, outra é má. Nós teremos a Vanessa (Letícia Colin), uma vilã com câncer. Quem tem câncer geralmente é a mocinha”, ele ressaltou.

Regina Casé como Zoe em Todas as Flores
Regina Casé como Zoe em Todas as Flores (Divulgação / Globoplay)

Falando das vilãs, ele também comentou sobre a personalidade e estilo da Zoé de Regina Casé, que ele admitiu ter algumas inspirações da vida real.

“Já cruzei com algumas por aí. É uma pessoa que veio de baixo, conseguiu sobreviver dando golpes, roubar o marido, melhorar de vida aos poucos. Mora na Barra, é loira e cafona.

“É inspirada em várias pessoas que vi. Mas ela é, como minhas personagens geralmente são, ambivalente. Pode cativar e fazer a gente odiá-la ao mesmo tempo”, ele concluiu

Todas as Flores estreia no Globoplay em 19 de outubro.

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