Especialista critica desvalorização de cinema nacional pelos streamings

Ex-diretora do Ancine defende que plataformas deviam ser regidas pelas mesmas leis que cinemas

Apesar de permitir que produções nacionais ultrapassem as fronteiras, chegando a outros países, os streamings depreciam o que é feito pelos brasileiros, segundo Vera Zaverucha.

A especialista em regulação audiovisual, que já foi diretora da Ancine (Agência Nacional do Cinema), ressaltou a importância das plataformas de streaming seguirem leis como as salas de cinema.

Durante uma conversa com o site Notícias da TV, ela abordou as dificuldades que produções independentes brasileiras vêm passando nos últimos 50 anos.

Ela apontou que a decadência de salas de rua, que tornaram cinemas quase que serviço exclusivo de shoppings, causou grande prejuízo à indústria cinematográfica brasileira.

Sérgio Malheiros como Carlinhos e Gkay como Graça em Um Natal Cheio de Graça
Sérgio Malheiros como Carlinhos e Gkay como Graça em Um Natal Cheio de Graça (Divulgação / Netflix)

Para Vera, os grandes streamings têm probabilidade de melhorar a situação das produtoras nacionais, e dar acesso ao cinema nacional às pessoas que não conseguem ir aos cinemas.

“Para a difusão do audiovisual brasileiro independente, eu vejo o streaming como uma possibilidade real que precisa ser regulada. Eu vejo o streaming como a grande possibilidade para a população de baixa renda acessar [produções nacionais], porque a televisão por assinatura e o cinema são muito caros”, ela disse.

Taís Araújo e Alfred Enoch em cena de Medida Provisória (Reprodução)
Taís Araújo e Alfred Enoch em cena de Medida Provisória (Reprodução)

No entanto, ela aponta que isso não acontece atualmente, pois as plataformas têm produzido seus próprios conteúdos nacionais, rebaixando aqueles que vem de produtoras independentes.

“Serviços dedicados ao conteúdo nacional não têm chance de crescer. Se você quiser assistir ao filme brasileiro, você tem que acessar a Netflix ou o Disney+, que não privilegiam o conteúdo local. Eles entram no país, produzem conteúdo com os próprios recursos, mas pegam nossos talentos e nossas histórias. É lançado de uma forma completamente distorcida do que seria caso o mesmo conteúdo fosse criado por uma produtora independente”, ela opinou.

Regido por leis específicas

A ex-diretora da Ancine argumenta que essa situação pode mudar a favor das produtoras brasileiras. Para isso, as plataformas devem ser regidas pelas mesmas leis que os cinemas, sendo obrigadas a exibir produções nacionais por um número mínimo de dias, por exemplo.

“Se a gente for olhar, todos os países do mundo tentam combater essa hegemonia do cinema norte-americano. Eu acho que, com a legislação adequada, a gente consegue minimizar essas assimetrias e colocar o audiovisual brasileiro na pauta dessas operadoras. A necessidade do cumprimento de cotas também deveria ser objeto de regulação dentro das plataformas. As cotas vão fazer com que eles demandem projetos [independentes]”, ela defende.

Jackson Antunes e Bruna Viola em cena de Sistema Bruto (Reprodução/Instagram)

Vera aponta também que é necessário corrigir uma grande falha na regulação do streaming no Brasil. Ela alega que as plataformas devem aderir ao Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), como a maioria dos segmentos do mercado audiovisual.

“Esses recursos são encaminhados para o Fundo Setorial do Audiovisual para fazer as políticas públicas necessárias para o fortalecimento da cadeia produtiva e econômica do cinema brasileiro”, ela explicou.

Ela também sugeriu uma obrigatoriedade em relação aos direitos autorais, nos casos de parcerias entre serviços de streaming e produtoras brasileiras.

“As plataformas precisam investir na produção audiovisual brasileira independente. Os direitos sobre essas obras têm que permanecer na mão das produtoras nacionais”, ela concluiu.

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