A Viagem de Pedro: Diretora diz que Brasil conhece caricatura do ex-imperador

Laís Bodanzky apresenta versão mais realista de Dom Pedro I em filme protagonizado por Cauã Reymond

Atualmente nos cinemas de todo país, A Viagem de Pedro acompanha Dom Pedro I em sua viagem de volta a Portugal, para retomar o trono roubado pelo irmão e mostra um lado nunca visto nas telas antes, que segundo a diretora do filme só é diferente da caricatura que os brasileiros conhecem.

Laís Bodanzky, que também atuou na produção como roteirista, respondeu sobre mostrar uma versão do ex-imperador do Brasil tão diferenciada, durante uma entrevista exclusiva com o E-Pipoca, defendendo que a imagem que o país tem é irrealista.

“Na verdade, não é algo tão diferente, é porque para nós brasileiras e brasileiros, nós temos uma imagem que é uma caricatura do Dom Pedro I”, ela afirmou.

Ela destacou que o retrato que todo brasileiro conhece de Dom Pedro I é totalmente errado, simplesmente porque ele foi inventado, e, inclusive, é um plágio.

“Na hora que você estuda ele, você percebe as nuances e entende que ele nem é aquele quadro de Pedro Américo, que foi pintado no Dia da Independência em cima de um cavalo, que é uma imagem desse herói é de uma cena que nunca aconteceu”.

“E esse é um quadro inventado que povoou, o nosso imaginário, é um quadro, aliás, copiado de um quadro francês, que foi feito muitos anos depois da Independência”, ela salientou.

Quadro Independência ou Morte de Pedro Américo (Reprodução)

A cineasta explicou que as informações reais sobre o ex-imperador estão registradas em livros, porém, uma ideia caricata foi propagada de maneira que passou a imperar na mente das pessoas.

“Ou a gente tem esse esse imaginário, o que vem desse quadro ou a gente tem uma imagem também de uma caricatura, de um homem mulherengo. Sim, ele tinha vários amores e várias amantes, mas a maneira como ele é visto pela história, desde a época que ele teve a crise política no Brasil, quando foi feita uma campanha de difamação dele, da imagem dele, transformando ele num cara ignorante, burro que era um fantoche do clero, que as mulheres mandavam nele”.

“E, na verdade, também não é isso, ele nem era esse fanfarrão, esse bobo, e nem era esse herói em cima de um cavalo. Então na hora que você estuda, as informações estão lá”, ela garantiu.

Victória Guerra e Cauã Reymond em cena de A Viagem de Pedro (Reprodução Youtube)

Ela contou sua motivação para trazer às telas uma versão mais realista de Dom Pedro I.

“Agora esse olhar contemporâneo que eu acho que eu que eu trouxe, é primeiro por eu ser mulher, de identificar nele um homem de fato, que não tinha empatia nenhuma pelas mulheres e que tinha uma relação com o sexo doentia, de tal forma que provavelmente ele tinha sífilis já nesse momento quando ele deixa o Brasil”.

“E por isso, ele estava impotente por conta da sífilis. Por isso ele já tinha delírios que é uma das consequências de quem já está com sífilis mais avançada e ele tinha. Leopoldina já tinha morrido, e ele tinha delírios com ela, e (a sífilis) deixa também a pessoa com uma imunidade muito baixa. E tudo isso dentro de um quadro político, de uma grande crise, ele estava isolado politicamente”, ela apontou.

Cauã Reymond em A Viagem de Pedro (Divulgação)

Laís ressaltou, ainda, que quis evidenciar o homem tóxico que Dom Pedro I foi, como algo muito comum na época e ainda comum nos dias de hoje.

“Então esse personagem, com a visão minha, como mulher, de entender que ele usou as mulheres, como um objeto, sabe: ‘Agora você me serve. Agora você não serve mais no meu projeto de vida’ Assim, descartando (as mulheres da vida dele) de uma forma muito cruel”.

“Isso não é uma coisa daquela época, essa é uma temática que eu acho que para nós, mulheres, nós temos mais consciência hoje. Naquela época o comportamento dele, era um comportamento esperado, padrão de um homem de poder. Mas hoje é inaceitável”, ela concluiu.

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