Como plano com propagandas da Netflix funcionará na prática?

Rodrigo Martins, profissional de mídia programática explica possível estratégia da plataforma

A Netflix anunciou na última semana o preço de seu plano com propagandas no Brasil, que custará R$ 18,90 por mês, apenas alguns reais a menos que o plano mais barato sem anúncios, cujo valor é de R$ 25,90.

A empresa, pioneira nos serviços de streaming relutou em colocar anúncios em seus pacotes, mas se viu obrigada a isso diante da baixa de assinantes que ocorreu no primeiro trimestre de 2022 (uma perda de cerca de 970 mil), uma realidade diferente de 2020.

No auge da pandemia da Covid-19, a Netflix ultrapassou a Disney no posto de empresa de entretenimento com maior valor de mercado, devido ao boom de assinantes daquele ano, motivado principalmente pelo lockdown.

Segundo a plataforma, serão exibidos 4 a 5 minutos de anúncios por hora de conteúdo, com cada publicidade durando de 15 a 30 segundos.

Para entender como estes anúncios serão pensados para a experiência de cada usuário, o E-Pipoca conversou com Rodrigo Martins, CEO da Voxus, startup que potencializa negócios no ambiente digital por meio de uma solução de mídia programática automatizada.

Mas o que é a mídia programática? Rodrigo explica que no passado, uma empresa que queria veicular sua publicidade para um determinado público, num determinado site na internet precisava negociar com o tal site o número de impressões (vezes que iria aparecer), e ter um planejamento para um público que nem sempre era exatamente quem ele gostaria de alcançar.

A mídia programática permite conectar anunciantes com veículos que querem vender espaços publicitários, além de possibilitar de forma simplificada atingir um público mais assertivo, e usando a coleta de dados para mirar em determinados hábitos de consumo.

“Hoje (os displays – banners com imagens e vídeos) são as principais formas de compra de propaganda na internet no mundo todo. Inclusive, já superando a própria televisão, que até anos atrás era a principal forma de se fazer propaganda […] Uma campanha convencional feita pela Voxus, por exemplo pode chegar a ter centenas de opções de perfis diferentes de usuário para o anunciante impactar.”

Rodrigo Martins, CEO da Voxus
Rodrigo Martins, CEO da Voxus (Divulgação)

Assim como a Netflix está entrando no mercado do streaming com propagandas, o profissional cita o Prime Video como exemplo, com a Amazon tendo seu próprio serviço de mídia programática.

“Basicamente, ela disponibiliza quais são os dados que o anunciante pode trabalhar na propaganda, então dentro da própria plataforma, ele vai ter as opções: qual é o tipo de audiência com a qual você ele quer falar? Qual é o tipo de conteúdo? Para onde quer fazer? E o processo de compra é feito por toda a tecnologia programática, ou seja, é a tecnologia que identifica aquele usuário, identifica qual é o conteúdo que aquele usuário está consumindo, e faz como se fosse uma chave com o que o anunciante solicitou comprar. Então o anunciante quer comprar pessoas de um determinado tipo de perfil, então cabe toda essa tecnologia”.

Netflix gera barulho com plano com propagandas que concorrentes não tiveram

De acordo com Rodrigo, a Netflix criou de forma tão forte o conceito de entregar entretenimento ao cliente de forma ininterrupta, que ele acredita que a parte tecnológica não será um problema para a empresa – visto que ela já tem o hábito de colher os dados de consumo de determinados conteúdos para indicar novos filmes e séries – e sim como ela lidará com a novidade, e o feedback de seus assinantes diante das propagandas.

“A Amazon que já tem propagandas, e a HBO Max (que também tem um plano com propagandas nos Estados Unidos) nunca foram tão agressivas nesse posicionamento. O Prime Video há muito tempo já coloca ali a divulgação de outros conteúdos da própria Amazon quando o usuário está assistindo, e ele já até se acostumou. Para a Netflix e Disney (que está estudando colocar anúncios) a diferença é a forma que o anunciante vai poder acessar esse inventário. A Netflix, pelo que a gente entendeu, vai fazer uma solução parceira com a Microsoft. Então, provavelmente, ela vai utilizar algumas das plataformas de programática que a Microsoft é proprietária como a Xandr, recém comprada e um dos maiores players do mundo”.

Em um documento enviado para seus executivos, a Netflix se mostrou confiante e estima que mesmo com lançamento do plano com propagandas em novembro, pelo menos 4,4 milhões de assinantes devam ser alcançados ainda em 2022.

O Wall Street Journal, chegou a noticiar que relatórios enviados para potenciais anunciantes diziam que o streaming espera até o terceiro trimestre de 2023 ter alcançado pelo menos 40 milhões de novos assinantes devido à investida.

Logo da Netflix (Divulgação)

Cuidado para não assustar usuário

“Os streamings vão ter cuidado ao inserir propagandas, isso com certeza vai ser diferente do que o YouTube faz, cujo usuário inclusive é mais tolerante, imagina você vendo um filme, no clímax, pronto para descobrir quem é um vilão, e entra uma publicidade?”, diz Rodrigo que citou a forma como o Globoplay passou a inserir sua publicidade como uma possível forma a ser seguida.

Na plataforma do Grupo Globo, quando o usuário dá o pause, a propaganda começa e fica no ar sem possibilidade de interrupção. Para o futuro, Martins acredita que os serviços vão oferecer um caminho fácil para conseguirem entender qual ação o usuário teve ao ser exposto a um comercial.

“Vai ter como saber com certeza como o usuário se comportou depois de receber aquela propaganda. Se ele foi para o site da marca por exemplo. Só o fato de ele ter assistido à publicidade, hoje na Voxus conseguimos mensurar, inclusive quanto tempo demora para o usuário, depois de ter visto uma propaganda, entrar no site do anunciante, mesmo que ele não tenha clicado no anúncio”.

O plano com propagandas da Netflix vai estar disponível no Brasil, Estados Unidos, México, Canadá, Reino Unido, Espanha, Itália, Alemanha, França, Japão e Coreia do Sul.

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