Nostalgia, paixão, um sonho e uma série de eventos que, literalmente, só aconteceriam no cinema marcam o mais novo filme do diretor Anthony Fabian: Sra. Harris Vai a Paris.
Estrelado por Lesley Manville, o filme nos transporta para a Londres da década de 1950, onde encontramos a simpática e sonhadora Ada Harris: uma diarista muito esforçada, ela sonha com o retorno do seu marido, que está desaparecido desde a Segunda Guerra Mundial.
Porém, em seu primeiro ato, Sra. Harris Vai a Paris prova ser mais do que um drama de época, mas sim um grande lembrete sobre os valores morais apreciados, mas não praticados pela sociedade (gentileza, bondade, compaixão).
Harris, dolorosamente, representa uma grande parte da terceira idade, que chega à velhice sem aposentadoria ou pensões e precisa continuar trabalhando para se manter.
Mas, pior, essas pessoas vivem sob o constante medo de perderem o pouco que têm: o seu emprego. Em certo momento, a protagonista chega a retratar o heroísmo do trabalhador, quando se volta contra um grupo de classe média em busca de mais empregos e melhores condições de trabalho.
A simpática senhora, no entanto, vive um dia de cada vez, extraindo o máximo que pode de cada um deles, até que ela se depara com um bonito e caríssimo vestido, assinado pelo famoso estilista francês Christian Dior.
Ada imediatamente se apaixona pelo vestido e passa a sonhar com a grife de luxo. Trabalhando duro todos os dias, a senhora é abençoada com um golpe de sorte e consegue o dinheiro que precisa para ir a Paris e comprar o seu próprio Dior.
Sra. Harris Vai ao País das Maravilhas?
Em seu segundo ato, Sra. Harris Vai a Paris começa a explorar uma suave, mas clara crítica ao elitismo da sociedade e chega a tocar na superficialidade do mundo da moda (mesmo que não tenha essa intenção).
Com uma bolsa cheia de dinheiro, mas vestes simples, Ada Harris chega ao prédio da Dior, no momento em que a sua mais nova e exclusiva coleção seria apresentada. Diga-se de passagem, para um grupo seleto de convidados.
Claudine Colbert (Isabelle Huppert), a recepcionista e o braço direito do próprio Christian Dior, se recusa a permitir a entrada de Ada. Claramente tirando sarro da senhora, exige que ela seja escoltada para fora da loja.
Ada, claro, é uma mulher sortuda e conquista a atenção de um dos convidados, consegue entrar no evento e acaba escolhendo um dos vestidos. Após muita relutância, a grife aceita produzir um modelo de um dos seus exclusivos vestidos para a protagonista.
Durante o toda a sua história, Sra. Harris Vai a Paris mergulha numa espécie de mundo quase perfeito, onde quase todos são gentis, reconhecem o esforço alheio e, principalmente, sempre oferecem recompensas por boas ações.
Fugir da forma como o mundo realmente funciona não é um defeito para esse filme e, pelo contrário, acaba se tornando uma espécie de charme que, novamente, deixa a história mais suave e esperançosa.
Mas, essa tentativa em sempre transformar a sua narrativa numa história suave acaba frustrando, quando Ada não processa a raiva e a frustração diante de várias atitudes condenáveis e desprezíveis de outros personagens, como Claudine Colbert.
Um expresso a alta costura
Entre vestidos de grife, desfiles, provas de roupas e passeios por uma Paris paralisada por uma greve, a filmografia de Sra. Harris Vai a Paris é, no mínimo, encantadora.
Com takes bem iluminados e uma paleta de cores viva, o filme leva seus espectadores para um conto de fadas e faz um bom trabalho em não os deixar pensar nas frustrações da sua personagem que, em muitos momentos, se humilha para entrar mundo da alta costura.
Essa sensação de estar no ‘país das maravilhas’ é reforçada pelo figurino do filme, que foi aos primórdios da Dior para replicar os modelos que aparecem ao longo da história.
Mas, além de tudo, o figurino do filme consegue levar a atmosfera da alta costura para o seu espectador, que pode sair da sala de cinema com ar nostálgico.
Todas as suas características, figurino e filmografia tornam Sra. Harris Vai a Paris num filme doce e agradável, uma verdadeira produção para se assistir numa tarde tranquila.
Sra. Harris Vai a Paris está em cartaz nos cinemas nacionais.
E nosso veredicto de Balde de Pipoca foi:
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Baiano, mas nascido em São Paulo, sou fascinado pelo cinema e a cultura pop e hoje me dedico à redação do ePipoca.