Por que as novelas infantis do SBT viraram curinga na Netflix?

Tramas com mais de 100 capítulos estão há mais de 2 anos no Top 10

Já faz um tempo que a Netflix colhe os louros por ser o serviço de streaming mais popular. Em relação a seu modelo de negócios, ela abriu caminho para outras empresas e se consolidou como sinônimo de uma nova geração, ou mesmo uma geração de gente velha que bate no peito com orgulho para dizer: “não assisto TV, só Netflix” (mesmo quando é para se referir a outros streamings).

O problema é que com o passar dos anos a empresa perdeu a soberania, tal qual a Microsoft, que demorou a entender em meados de 2000 que futuro estaria no mobile. A Netflix evitou olhar para os concorrentes, tratou-os com desdém, para no fim de se provar o pior dos players (em conteúdo).

A empresa hoje se mantém às custas de popularidade e meia dúzia de títulos bombásticos como Stranger Things, The Witcher e Bridgerton, e atira para todo lado na tentativa quase sempre falha de achar um novo grande sucesso (com isso, cancelando as produções na mesma velocidade que as anuncia).

No Brasil existe uma particularidade – a Netflix por aqui virou a Globo do streaming – aquela que as pessoas reclamam, mas continuam assistindo (neste caso, pagando). Outro fenômeno que acontece por aqui: a proliferação de novelas infantis que á mais de dois anos figuram entre os 10 mais assistidos da plataforma.

Tramas produzidas para a criançada pelo SBT passaram a ser assistidas a exaustão por quem tem mania de torcer o narz para toda e qualquer produção nacional e por quem adora dizer que não assiste mais TV. É aqui que as coisas se confundem. Tirando os originais, as séries que fazem parte da plataforma não foram todas um dia programas exibidos na TV linear? E ainda, o que explica o sucesso das tramas infantis?

Carrossel, Chiquititas, Carinha de Anjo, As Aventuras de Poliana, todas são histórias adaptadas, senão de outros meios, de versões internacionais que no Brasil ganharam enredos esticados às vezes por anos, para preencher uma lacuna de programação do canal de Silvio Santos.

Isso criou uma extensão em capítulos que para o streaming é um prato cheio. Algumas dessas novelas chegam a quase 500 horas de conteúdo, recheadas com muita música e clipes musicais que se repetem e cativam a audiência infantil. Esse pode ser um grande ponto a favor das tramas e motivo pelo qual elas fazem esse ‘barulho silencioso’.

Vamos supor que uma criança assista a um ou dois capítulos por dia de uma novela que tem 300, serão pelo menos alguns meses para que ela chegue ao final da trama. Assim como tramas longas fazem com que os canais de TV diluam seus custos de produção, no streaming, elas garantem mais e mais horas assistidas (que é como é feita a contagem de audiência da Netflix).

Junta-se a isso outro fenômeno: as crianças que são criadas pela TV (É normal no Brasil, eu fui uma delas) – Pais muito atarefados costumam colocar as crianças, sobretudo as pequenas, em frente à TV para que elas assistam algo por isso. E com uma base de assinantes de quase 20 milhões de assinantes no Brasil, a Netflix é nova TV a cabo. É a nova babá no qual o pai confiará seu filho.

E não menos importante, existe uma relação comercial que rege as tramas infantis no streaming: São centenas de produtos licenciados que variam de cadernos a bonecas, e que são sempre renovados nas prateleiras das lojas de brinquedos enquanto aquela produção estiver sendo veiculada.

O streaming está cada vez mais voltado para a audiência jovem e infantil – basta lembrar que ao anunciar o Disney+, a Disney conseguiu no primeiro dia de funcionamento do serviço, 10 milhões de assinaturas, mesmo com todos os pagantes sabendo que ali só veriam produções com classificação inferior a 12 anos.

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