Guillermo del Toro é contra uso de inteligência artificial no cinema: “Máquina não faz arte”

Cineasta também falou sobre necessidade de mudança na categorização do Oscar

Conhecido como um dos mais talentosos cineastas da atualidade, Guillermo del Toro não poupou palavras ao detonar o uso de Inteligência Artificial nas produções cinematográficas.

O diretor, que acaba de lançar sua versão do clássico Pinóquio, mostrou ter um estilo mais velha guarda, do tipo que prefere trabalhar por dias na construção de um objeto cenográfico.

Falando sobre sua animação em stop motion da Netflix, em uma entrevista ao site Decider, ele ressaltou seu ponto de vista de que arte só pode ser feita por seres humanos.

“Acho que a arte é uma expressão da alma. No seu melhor, está englobando tudo o que você é. Portanto, eu consumo, e amo, arte feita por seres humanos. Estou completamente comovido com isso. Não me interessa uma ilustração feita por máquinas e a extrapolação de informações”, ele defendeu.

Guilhermo del Toro observa a miniatura utilizada na produção de Pinóquio
Guilhermo del Toro observa a miniatura utilizada na produção de Pinóquio (Divulgação/Netflix)

Ele prosseguiu ressaltando que acha inaceitável deixar uma máquina fazer um trabalho tão artístico, como o feito no audiovisual.

“Conversei com Dave McKean, que é um grande artista. E ele me disse, sua maior esperança é que a IA não possa desenhar. Ele pode interpolar informações, mas não pode desenhar. Nunca pode capturar um sentimento, ou um semblante, ou a suavidade de um rosto humano, sabe? Certamente, se essa conversa estivesse sendo feita sobre cinema, doeria profundamente. Eu pensaria que, como [Hayao] Miyazaki diz: ‘um insulto à própria vida’”, ele afirmou.

Cena de Pinóquio de Guillermo del Toro (Divulgação Netflix)
Cena de Pinóquio de Guillermo del Toro (Divulgação Netflix)

Del Toro defende animação como filme

Apesar de fazer uma versão um pouco mais sombria do clássico, Pinóquio está se tornando um imenso sucesso na Netflix, tendo alcançado o 2º lugar do Top 10 mundial. A apreciação do público levanta a possibilidade do longa se tornar um forte candidato ao Oscar, porém como uma animação, não como filme.

Essa categorização foi apontada por Del Toro como algo que deveria ser mudado, pois parece rebaixar a produção de nível.

“Olha, eu realmente não sonho ou espero que a mudança tenha que acontecer este ano. Pode acontecer no próximo ano e nesta década. A discussão é muito simples: este filme está entre os 10 melhores que vi este ano? Se a resposta for sim, coloque-a lá. E a resposta é não, não coloque isso lá. É muito simples”, ele opinou.

Cena de Pinóquio de Guillermo del Toro (Divulgação Netflix)
Cena de Pinóquio de Guillermo del Toro (Divulgação / Netflix)

O cineasta justificou seu ponto de vista. Ele explica que uma animação como Pinóquio dá tanto ou até mais trabalho que um filme longa-metragem, apenas em tamanho menor.

“O ofício é incrivelmente complexo. A animação stop-motion, certamente, é muito analógica à ação ao vivo. Você tem cinematografia real, adereços reais, cenários reais e guarda-roupa real – mas tudo é miniaturizado.

“E tudo acontece a 24 quadros por segundo. Isso me lembra o que Ginger Rogers disse sobre Fred Astaire: ‘Eu faço o que você faz, mas para trás em saltos altos’”, ele concluiu.

Pinóquio de Guilhermo del Toro está disponível na Netflix.

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