Atriz comenta subtexto queer em Identidade: “Não servimos perfeitamente em caixinhas”

Tessa Thompson conversa sobre sua experiência com seu novo filme, Identidade (Passing, em seu título original), em entrevista com a Variety. O filme é uma adaptação de um livro homônimo de 1929, da autora Nella Larsen.

A atriz compartilha sua opinião de como as questões raciais tratadas nele refletem muitas outras coisas nas identidades femininas que mulheres sentem a necessidade de esconder, incluindo a identidade queer.

O termo “passing” é um conceito estadunidense que surgiu no século 19 usado para descrever a situação em que uma pessoa consegue “passar-se” por um indivíduo de outro grupo racial ou étnico diferente do seu.

Posteriormente, membros da comunidade LGBTQIA+ também usariam o termo para pessoas trans que “se passavam” por pessoas cisgênero. O famoso (e transfóbico) “nossa, mas ela nem parece que nasceu homem”.

Tessa vive Irene no filme, uma mulher negra que vive no Harlem nos anos 20, época do histórico Renascimento do Harlem. Sua vida acaba virando de cabeça para baixo quando ela reencontra uma amiga de infância, Claire, que finge ser branca.

A atriz, assumidamente gay, conta que a situação de Claire no filme é na verdade uma metáfora de muito mais coisas que muitas mulheres precisam esconder além de sua raça, entre elas sua identidade como não pertencente à “norma” heterossexual:

“Nella usa ‘passing’ em termos de raça como uma metáfora para todas as maneiras nos quais nós passamos: esta ideia que as mulheres precisam passar por satisfeitas estando inteiramente presas dentro de casa, o que para muitas mulheres não é o caso. Temas de sexualidade, de desejo reprimido.”

Tessa Thompson é Irene Redfield em Identidade (Divulgação)
Tessa Thompson é Irene Redfield em Identidade (Divulgação)

Tessa também confessa que isso foi uma das coisas que mais chamou a atenção dela quando ela aceitou o papel. Ela revela que a ideia de mostrar que muitos de nós precisam de muita luta para poder serem quem são era algo que ela não podia perder a chance de interpretar nas telas:

“Algo que se destacou para mim foi essa ideia de que nenhum de nós serve perfeitamente em caixinhas, que nós iremos inevitavelmente acabar transbordando quando e se nós permitirmos a nós mesmos completo acesso a aqueles que nós somos na verdade.”

Atriz diz que autora era à frente de seu tempo

Thompson também elogia a autora do livro na qual o filme é baseado, já que trata de temas que não eram discutidos há cem anos. Ela fala que Nella Larsen era uma artista muito avançada para a época e uma pioneira na discussão da interseccionalidade, algo que ainda hoje é um assunto muito novo:

“O que é completamente incrível é que a Nella estava escrevendo sobre isso antes mesmo de haver palavras para se referir a interseccionalidade, por exemplo. Ela realmente estava à frente de seu tempo e, de algumas maneiras, à frente do nosso tempo.”

Assista ao trailer oficial aqui:

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Identidade estará disponível no Brasil a partir da próxima quarta-feira, 10 de novembro, na Netflix.

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