Armageddon Time é uma leitura do apocalipse social, mas é preciso sensibilidade para entendê-lo

Ovacionado no Festival de Cannes, o filme é estrelado por Michael Banks Repeta Anthony Hopkins, Anne Hathaway e Jeremy Strong

No auge da guerra fria, os Estados Unidos viveram o constante temor por uma guerra nuclear e a sua cultura resumiu esse medo a uma palavra: armageddon.

Porém, num passo de ousadia, o diretor James Gray tenta ressignificar o termo que definiu uma era e, com Armageddon Time, propõe uma visão mais metafórica ao apocalipse humano.

Quem chega aos cinemas sem ter visto um trailer ou cartaz de Armagedon Time, espera ver uma história repleta de bombas, guerras, destruição, arrependimento e grandes nomes dos filmes de ação americanos.

Johnny (Jaylin Webb) e Paul Graff (Michael Banks Repeta) em Armageddon Time
Johnny (Jaylin Webb) e Paul Graff (Michael Banks Repeta) em Armageddon Time (Divulgação / Universal Pictures)

Embora o filme se proponha, todo o horror que esse apocalipse poderia causar é metafórico, o que não lhe torna uma obra ruim.

Com nomes de peso do cinema como Anthony Hopkins, Anne Hathaway e Jeremy Strong o filme é uma verdadeira melodia que descreve a catástrofe que a sociedade humana se tornou.

Uma jornada pela integridade

Irving Graff (Jeremy Strong) e Esther Graff (Anne Hathaway) em Armageddon Time
Irving Graff (Jeremy Strong) e Esther Graff (Anne Hathaway) em Armageddon Time (Divulgação / Universal Pictures)

Se passando na década de 1980, a história de Armageddon Time explora a vida de Paul Graff (Michael Banks Repeta), um garoto branco, ruivo e de feição delicada, que sonha em se tornar um artista.

Filho de Esther Graff (Anne Hathaway) e Irving Graff (Jeremy Strong), um técnico em eletrodomésticos, Graff é o retrato dos filhos da classe média americana, um garoto que genuinamente se acha rico e, como seus pais descrevem, ainda não sabe o valor do dinheiro.

Johnny (Jaylin Webb) e Paul Graff (Michael Banks Repeta) em Armageddon Time
Johnny (Jaylin Webb) e Paul Graff (Michael Banks Repeta) em Armageddon Time (Divulgação / Universal Pictures)

Graff estuda numa escola pública, onde conhece Johnny (Jaylin Webb), um garoto negro, órfão e bem levado. Através da sua amizade com Johnny, Graff começa a ver os primeiros sinais escancarados do racismo, na forma como seu professor trata Johnny, como sua família se refere aos negros nas escolas dos bairros ou, até mesmo, na vizinhança.

O protagonista finalmente tem o vislumbre do que é o preconceito quando vai estudar numa escola particular, frequentada pela elite de Nova York. Em seu novo colégio, Graff entende da forma mais desagradável que não tem um nome de prestigio e que, se quiser ser bem visto, não poderia nem sequer ficar perto de Johnny.

Paul Graff (Michael Banks Repeta) e Aaron Rabinowitz (Anthony Hopkins) em Armagedon Time
Paul Graff (Michael Banks Repeta) e Aaron Rabinowitz (Anthony Hopkins) em Armageddon Time (Divulgação / Universal Pictures)

Agindo como o papel da consciência do protagonista está o seu avô Aaron Rabinowitz (Anthony Hopkins), um filho de judeus que sempre viveu o preconceito enfrentados por seus pais, que saíram fugidos da Europa. Vendo o drama moral de seu neto, Aaron encoraja Graff a ser um “homem íntegro” e defender seus ideais, inclusive a sua amizade com Johnny.

Graff provavelmente carregará uma culpa por toda a sua vida, por não ter conseguido seguir o conselho do seu avô, quando deixou Johnny ser culpado por um crime que os dois cometeram.

Um filme ótimo, mas estreia na hora errada e no lugar errado

Johnny (Jaylin Webb) e Paul Graff (Michael Banks Repeta) em Armageddon Time
Johnny (Jaylin Webb) e Paul Graff (Michael Banks Repeta) em Armageddon Time (Divulgação / Universal Pictures)

Armageddon Time foi prestigiado pela primeira vez durante o Festival de Cannes, evento no qual o filme foi ovacionado por sua plateia, um público repleto por diretores, produtores, roteiristas e estrelas dos cinemas.

Porém, na era dos streamings, em que grande parte dos novos blockbusters são filmes de super-heróis, Armageddon Time dificilmente imprimirá sua verdadeira mensagem nos cinemas, quem dirá se tornar um grande sucesso.

Esther Graff (Anne Hathaway) em Armageddon Time
Esther Graff (Anne Hathaway) em Armageddon Time (Divulgação / Universal Pictures)

Embora tenha um roteiro fácil, o longa de James Gray leva uma mensagem densa aos cinemas, exigindo que seu espectador tenha uma sensibilidade maior, especialmente para questões sociais, para entendê-lo.

Usando diálogos, julgamentos e ações corriqueiras, que todos provavelmente já ouviram, a obra faz uma verdadeira crítica ao racismo e o elitismo velados na sociedade.

O filme vai além, quando transporta Graff para sua nova escola, deixando escancarada a diferença entre as classes sociais americanas e como o racismo apenas se acentuava entre elas, principalmente entre os anos 1980 e 1990.

Armagedon Time estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (10).

E nosso veredicto de Balde de Pipoca foi:

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