Moldado pelo trabalho da diretora polonesa Agnieszka Holland, O Charlatão consegue ser um filme biográfico e crítico, ao retratar a história do maior curandeiro da República Checa.
Estrelado por Ivan Trojan, reconhecido como a estrela do cinema checo, o longa expressa a dura personalidade de Jan Mikolásek, mas ainda assim consegue humanizar uma das figuras mais controversas de seu tempo.
Nascido em Rokycany, Mikolásek se tornou uma das personalidades mais conhecidas em seu país, durante a metade do século passado.
Dotado de um dom, o curandeiro ganhou “fama” por conseguir produzir diagnósticos médicos precisos analisando apenas a urina de seus pacientes.
Incompreendido por muitos e questionado por muitos, a interpretação de Ivan Trojan e o enredo de Marek Epstein, criam a imagem de um Mikolásek cuja vontade em fazer o bem é verdadeira.
Além de retratar um homem humilde no que diz respeito ao seu trabalho, mas ainda assim com uma personalidade fechada, por várias vezes egoístas e até mesmo rude.
Instigante
Se iniciando com a morte do presidente Zápotocký, a princípio causada pelo protagonista, o longa constrói sua narrativa através de intercâmbios entre os eventos que se mostram atuais para o personagem e flashbacks de momentos importantes em sua vida.
Como resultado, o protagonista ganhou um foco maior em sua vida adulta e, principalmente, nos eventos que antecederam os dias de seu julgamento.
Ainda assim, o roteiro aborda de forma suficiente a juventude de Mikolásek, assim como a descoberta de seu dom, além de momentos chaves de sua vida, como o romance com o seu assistente.
Embora seu roteiro se mostre eficiente e até mesmo instigue o telespectador, o longa é concluído sem finalizar o evento mais importante da vida do “charlatão”, seu julgamento, numa cena que transmite o resultado dos pequenos detalhes abordados pela narrativa.
Ainda assim, o filme se mostra o causador de uma grande crítica política ao retratar a perseguição que seu protagonista enfrentou, pelo Partido Nazista, assim como pelo Partido Comunista, pois sempre era visto como um “charlatão” por aqueles que estavam no poder.
A produção também acerta ao introduzir e retratar, ainda que de forma indireta, as consequências do romance proibido de Mikolásek, numa época em que a homossexualidade era tachada como um crime, pelo regime comunista.
Vale se destacar a atuação surpreendente de Ivan Trojan, que mergulha no personagem de uma maneira profunda, na qual o espectador, por muitas vezes, esquece que está diante do ator e se projeta para a realidade do personagem.
O Charlatão já está em cartaz e pode ser visto nos cinemas.
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Baiano, mas nascido em São Paulo, sou fascinado pelo cinema e a cultura pop e hoje me dedico à redação do ePipoca.
