Adão Negro abraça fórmula fácil da Marvel, mas entrega anti-herói para fazer a concorrência tremer

Dwayne Johnson sustenta filme mesmo com personagem tendo pouco carisma

Há alguns anos na produção de Adão Negro, Dwayne Johnson disse em inúmeras entrevistas que a hierarquia de poder no universo da DC iria mudar quando o filme entrasse em cartaz.

O longa que estreia oficialmente nesta quinta-feira (20) no Brasil esclareceu a fala pretensiosa de seu protagonista: O anti-herói, como é chamado, representa não apenas a força de um personagem que não possui tanta popularidade quanto seus colegas de editora, mas a tentativa de colocar ordem em sequências de filmes há muito em desalinho.

Adão Negro surgiu nos quadrinhos na década de 1940 como um rival direto do Shazam, inclusive a origem dos poderes dos dois personagens é a mesma, e até sua força e capacidade de soltar raios, e o filme trata de explicar que o que difere os dois é forma como cada um lidou com esses dons divinos entregues por magos muitos anos antes de Cristo.

Dwayne Johnson como Adão Negro em Adão Negro
Dwayne Johnson como Adão Negro em Adão Negro (© 2022 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.)

Escravo no Antigo Egito, o personagem tem sua história pregressa contada através de uma narração de um dos personagens do filme, Amon (Bhodi Sabongui), garoto que tenta ajudar a mãe num tipo de aventura arqueológica, a fim de encontrar um artefato antigo forjado por demônios.

A violência presente no filme vai agradar aos fãs de ação, e sobretudo aos fãs do The Rock, que não empresta tanto seu carisma ao personagem que se mostra sisudo, e se alterna entre o desejo de fazer justiça e a vontade de não se curvar às regras impostas por uma sociedade que ele não faz parte, e não acredita.

Porém, é difícil desassociar, que o ator e ex-lutador não esteja sendo ele mesmo nas cenas.

Dwayne Johnson como Adão Negro em Adão Negro
Dwayne Johnson como Adão Negro em Adão Negro (© 2022 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.)

Adão Negro dá alfinetada sutil em filmes de super-heróis

Toda a história do longa se passa no fictício país Kahndaq, dominado há mais de duas décadas por um governo militar e abusivo, que é pouco explorado, mas suficiente para levar reflexão sobre a ação dos super-heróis somente em torno de proteger os Estados Unidos (como se apenas o país representasse o mundo inteiro).

Essa discussão é verbalizada por uma das personagens sobretudo com a chegada da Sociedade da Justiça, grupo conhecido dos fãs de quadrinhos e animações, que também faz sua estreia nas telonas (embora seja claramente considerada uma equipe B inferior à Liga da Justiça).

Noah Centineo como Esmaga Átomo em Adão Negro
Noah Centineo como Esmaga Átomo em Adão Negro (© 2022 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.)

Não houve contação de histórias de origem dos personagens, eles simplesmente apareceram, e a presença deles serve mais como uma apresentação para projetos futuros do que propriamente fazer a diferença neste enredo em específico.

Em quase todos os momentos da história, existe uma necessidade de explicar Teth-Adam (que mais tarde assume a alcunha de Adão Negro), e suas ações violentas, e fatais. Ele tem necessidade/ prazer em matar, e não entende o mundo dividido entre os bons e os maus, inclusive leva para seus diálogos os anseios do público quanto aos vilões: Por que poupar a vida de um vilão, que voltará a aterrorizar?

Aldis Hodge como Gavião Negro e Marwan Kenzari como Sabbac em Adão Negro
Aldis Hodge como Gavião Negro e Marwan Kenzari como Sabbac em Adão Negro (© 2022 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.)

Filme abraça fórmula dos blockbusters

Esta construção de princípios morais parece fazer parte de um novo plano da DC para explicar o óbvio a uma plateia quase infantil de espectadores, que se acostumou (e pregou como modelo a ser seguido) o jeito Marvel de fazer cinema: que é tratando o espectador como burro, e tornando-o incapaz de ver camadas e ter uma percepção além dos efeitos (Histórias complexas nos últimos anos foram tratadas como ruins, basta lembrar do insucesso de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça, que se opunha à fórmula fácil do Homem de Ferro e companhia).

Não. Adão Negro não é um filme com questões complexas, filosóficas, e que levem à grande reflexão (nisso, a DC aprendeu com a Marvel a nivelar o público por baixo), é apenas um entretenimento, mas um bom entretenimento, boa direção de cenas, boa trilha sonora, e uma qualidade impecável de efeitos visuais (tal qual Zack Snyder, o diretor Jaume Collet-Serra abusa da câmera lenta) e sonoros que talvez nenhum outro filme do DCEU tenha tido anteriormente.

Sarah Shani como Adrianna e Pierce Brosnan como Dr. Destino em Adão Negro
Sarah Shani como Adrianna e Pierce Brosnan como Dr. Destino em Adão Negro (© 2022 Warner Bros. Entertainment Inc. All Rights Reserved.)

Por falar em DCEU, muito se noticiou sobre Adão Negro ser uma espécie de reboot de todo o universo: Não é. Ele flerta com personagens, e enredos de filmes anteriores estabelecendo uma ligação sutil, que faz de Johnson sim, um possível condutor das próximas histórias – muito mais atrás das câmeras, com sua produtora Seven Bucks, do que na frente delas (já que em tempos de mudanças de donos, a Warner busca uma espécie de Kevin Feige próprio para guiar a DC Films).

Vale lembrar ainda que a DC nos cinemas enfrenta uma estranha resistência, e isso pode ser notado através das notas de críticos no Rotten Tomatoes (há até quem diga que o filme só é bom porque não quis ‘lacrar’), que passou a ser tornar não confiável à medida que crescia. O filme vale a atenção do público e cada minuto de suas 2 horas.

Observação: O alívio cômico é moderado e fica por conta de Noah Centineo, que não faz feio mesmo em situações insossas do roteiro.

Observação 2: Adão Negro manteve um elemento comum às animações da DC: Um letreiro com a localização e data dos eventos em várias cenas.

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*João Paulo Reis

E nosso veredicto de Balde de Pipoca foi:

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