Cinemas recebem documentário sobre bastidores do impeachment de Dilma Rousseff

Os cinemas de todo o país receberam na última quinta-feira, 27 de maio o documentário Alvorada, de Anna Muylaert e Lô Politi, que mostra os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff.

O filme, que passou recentemente pelo festival É Tudo Verdade, teve uma abordagem diferente dos outros documentários sobre o assunto, como O Processo (2018) e Democracia em Vertigem (2019).

Alvorada acompanha o dia a dia da ex-presidente, que, afastada de seu cargo aguardava a audiência que decidiria seu destino, que acabou sendo o impeachment.

Os três documentários que abordam o impeachment de Dilma Rousseff foram dirigidos por mulheres, provavelmente devido o tom totalmente misógino do golpe de derrubou a primeira presidenta do país.

No dia do lançamento de Alvorada nos cinemas, Anna Muylaert e Lô Politi conversaram com o site Splash sobre o documentário.

“Sabíamos que a Petra Costa estava nas ruas e a Maria Augusta Ramos no Senado, então buscamos um recorte diferente”, disse Anna sobre sua escolha de abordagem.

As duas contaram que já conheciam Dilma e isso facilitou um pouco o acesso delas ao Palácio da Alvorada, mas não eliminou o incômodo da presidenta em ser observada durante todos os momentos de seu dia por 30 dias.

“Quando ela topou não tinha noção de como seria incômodo. Ficamos quase 30 dias lá, filmando de manhã, tarde e noite todos os dias da semana, em um momento tão tenso para ela”, explicou Lô

Em alguns momentos do documentário a presidenta aparece pedindo que interrompam as filmagens.

“A negociação com ela no começo foi muito aberta, aos poucos foi se incomodando, mas nunca nos mandava embora nem reclamou de estarmos lá. Ela não tinha controle algum sobre isso”, contou Lô.

Dilma Rousseff em seu proncunciamento após o impeachment (Reprodução)

As duas cineastas concordaram que diante o momento retratado, o filme acabou tendo muito mais momentos meio parados do que de grande agito, tornando a produção um tanto quanto melancólica.

“O início da montagem foi difícil. A partir do momento em que aceitamos que a melancolia era a natureza deste filme, aí construímos esta narrativa que é a espera de um desfecho anunciado”, esclareceu Anna.

“Esperar a tragédia acontecer já dá um tom melancólico, não tem escapatória”, admitiu Lô

Elas deixaram claro que não queriam produzir um material jornalístico, mas um filme documental voltado especificamente para brasileiros.

“Não queríamos fazer uma reportagem, com informações de fácil acesso”, esclareceu Lô.

“Foi libertador quando desistimos da ideia que o europeu tinha que entender. Vamos ser um filme para brasileiro. Nossa proposta não era didática, porque nem os principais eventos relativos ao golpe aconteceram no Alvorada. Já aí ficamos deslocados dos atos centrais. Quem quiser procura no Google, o que temos ali é a observação do que aconteceu” descreveu Anna.

Anna Muylaert chegou a fazer um pertinente comentário sobre a eleição de Jair Bolsonaro.

“Um deputado que iniciou o processo de impeachment acabou se tornando presidente, como consequência direta do golpe. Se não fosse aquele 17 de abril, ele talvez fosse um candidato nanico. A partir daquele evento, acabou sendo eleito”, ela afirmou.

A cineasta ainda falou sobre a reação de Dilma Rousseff ao documentário.

“Ela viu uma versão próxima desta. Disse que o final estava bonito e pediu para retirar duas ou três cenas com funcionários de carreira do Alvorada, que ainda estariam lá. Ela achou que a presença no filme poderia comprometê-los”, contou.

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