CRÍTICA: Me Tira da Mira tem ação e besteirol na medida, mas Brasil ainda não está preparado

Filme com Cleo e Sergio Guizé estreou na HBO Max, mas escancara que público com síndrome de vira-lata ainda torce o nariz para conteúdo nacional

O filme nacional Me Tira da Mira chegou na HBO Max na semana passada e logo se transformou em febre no streaming, chegando ao top 10 da plataforma. O longa protagonizado por Cleo foi filmado em 2020 no auge da pandemia, e só estreou nos cinemas em 24 de março desse ano, com uma combinação de elementos que costuma fazer sucesso lá fora.

Tal qual um filme de ação dos anos 1970, ele mistura comédia, tiros, situações absurdas, e diversas explosões. Não existe aqui uma comédia física, nem as piadas fáceis que aparecem em outras produções brasileiras recentes como A Sogra Que Te Pariu, e sim momentos de riso um pouco mais refinados (mas só um pouco).

Antuérpia Fox (Vera Fischer) em Me Tira da Mira
Antuérpia Fox (Vera Fischer) em Me Tira da Mira (Divulgação/ Imagem Filmes)

A história gira em torno de Roberta (Cleo), uma policial civil que construiu a própria carreira tentando fugir da influência do pai, Jorge (Fabio Junior), um dos chefes da polícia federal no Rio de Janeiro. Ela, que tem uma postura de durona, e um tanto desorganizada, coloca sua vida pessoal sempre em segundo plano quando tem alguma grande investigação acontecendo.

Ela começa então a investigar junto com seu parceiro Lucas (Fiuk) a morte de uma famosa atriz chamada Antuérpia Fox (Vera Fischer), inclusive, quando o longa começou a ser gravado, ele tinha o título provisório de Quem Matou Antuérpia Fox?, mas o filme acaba sendo mais do que a resolução de um caso criminal.

A protagonista chega a uma pista de que a loira teria sido envenenada após dar entrada em uma clínica que promete uma re-energização espiritual (Quem assistiu à série Nove Desconhecidos, do Prime Video, vai achar esse trecho um tanto familiar).

Roberta (Cleo), Lucas (Fiuk) e Isabela (Bruna Ciocca) em Me Tira da Mira
Roberta (Cleo), Lucas (Fiuk) e Isabela (Bruna Ciocca) em Me Tira da Mira (Divulgação/ Imagem Filmes)

Duas outras personagens chamam atenção – Natasha (Júlia Rabello) e Isabela (Bruna Ciocca). A primeira é uma atriz, polêmica, que foi cancelada na internet, viciada e remédios, e com distúrbios de grandeza, e que está se preparando para o grande papel de sua carreira, o remake da novela Mulheres de Areia, no papel das gêmeas Ruth e Raquel. A segunda é a psicóloga que teve o coração partido por Lucas, e se transformou numa stalker. Ela é a primeira a descobrir que Roberta está infiltrada na clínica para descobrir o que a instituição esconde.

Ao mesmo tempo, Rodrigo (Sergio Guizé) está investigando no mesmo local, uma quadrilha internacional de tráfico de armas, que tem negócios fraudulentos com a dona da clínica. Todas as cenas são marcadas pelo exagero, e ainda assim é possível se importar com os personagens, torcer por eles, e esperar pelas próximas cenas.

Repleto de participações especiais, aqui está um dos grandes trunfos do longa: capturar uma audiência jovem através de figuras que fazem sucesso tanto nas redes sociais, como em outras mídias.

Lucas (Fiuk), Roberta (Cleo) e Jorge (Fabio Jr) em Me Tira da Mira
Lucas (Fiuk), Roberta (Cleo) e Jorge (Fabio Jr) em Me Tira da Mira (Divulgação/ Imagem Filmes)

Algumas dessas participações como a do ator e ex-BBB Kaysar Dadour, são dispensáveis pois mal contribuem para o desenvolvimento do enredo. Existem no filme momentos completamente caóticos, e que soam artificiais, porém, Cleo carrega o filme nas costas, como a personagem mais bem desenvolvida.

Mesmo sendo um filme ‘bobo’, que tem como essência uma investigação policial e faz isso de forma leve, ele tem um destaque positivo para a construção de alguns personagens que são sempre mostrados em algumas camadas. É possível ver o lado doce de Roberta para com os seus, ao mesmo tempo que precisa se mostrar firme no trabalho, assim como a psicóloga que leva tão a sério seu trabalho, mas nas horas vagas, acaba deixando de lado qualquer traço da profissão quando o assunto é sua própria vida pessoal.

Com certeza é um filme que vai agradar a quem busca uma comédia leve no estilo Sessão da Tarde. E se souber pegar as referências às músicas do Fabio Junior (já que o filme brinca com essa relação familiar), melhor ainda.

Jorge (Fabio Jr), Roberta (Cleo) e Lucas (Fiuk) em Me Tira da Mira
Jorge (Fabio Jr), Roberta (Cleo) e Lucas (Fiuk) em Me Tira da Mira (Divulgação/ Imagem Filmes)

Observação: Quando a HBO Max anunciou a chegada do filme nas redes sociais, houve um movimento muito grande de rejeição a um conteúdo nacional por puro preconceito. A nível pessoal, eu queria realmente entender por que as pessoas conseguem ter empatia com filmes nonsenses como O Esquadrão Suicida, A Babá e a franquia Pânico inteira, mas sem mesmo dar a chance a um filme nacional, falam mal?

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