Há alguns anos na produção de Adão Negro, Dwayne Johnson disse em inúmeras entrevistas que a hierarquia de poder no universo da DC iria mudar quando o filme entrasse em cartaz.
O longa que estreia oficialmente nesta quinta-feira (20) no Brasil esclareceu a fala pretensiosa de seu protagonista: O anti-herói, como é chamado, representa não apenas a força de um personagem que não possui tanta popularidade quanto seus colegas de editora, mas a tentativa de colocar ordem em sequências de filmes há muito em desalinho.
Adão Negro surgiu nos quadrinhos na década de 1940 como um rival direto do Shazam, inclusive a origem dos poderes dos dois personagens é a mesma, e até sua força e capacidade de soltar raios, e o filme trata de explicar que o que difere os dois é forma como cada um lidou com esses dons divinos entregues por magos muitos anos antes de Cristo.
Escravo no Antigo Egito, o personagem tem sua história pregressa contada através de uma narração de um dos personagens do filme, Amon (Bhodi Sabongui), garoto que tenta ajudar a mãe num tipo de aventura arqueológica, a fim de encontrar um artefato antigo forjado por demônios.
A violência presente no filme vai agradar aos fãs de ação, e sobretudo aos fãs do The Rock, que não empresta tanto seu carisma ao personagem que se mostra sisudo, e se alterna entre o desejo de fazer justiça e a vontade de não se curvar às regras impostas por uma sociedade que ele não faz parte, e não acredita.
Porém, é difícil desassociar, que o ator e ex-lutador não esteja sendo ele mesmo nas cenas.

Adão Negro dá alfinetada sutil em filmes de super-heróis
Toda a história do longa se passa no fictício país Kahndaq, dominado há mais de duas décadas por um governo militar e abusivo, que é pouco explorado, mas suficiente para levar reflexão sobre a ação dos super-heróis somente em torno de proteger os Estados Unidos (como se apenas o país representasse o mundo inteiro).
Essa discussão é verbalizada por uma das personagens sobretudo com a chegada da Sociedade da Justiça, grupo conhecido dos fãs de quadrinhos e animações, que também faz sua estreia nas telonas (embora seja claramente considerada uma equipe B inferior à Liga da Justiça).

Não houve contação de histórias de origem dos personagens, eles simplesmente apareceram, e a presença deles serve mais como uma apresentação para projetos futuros do que propriamente fazer a diferença neste enredo em específico.
Em quase todos os momentos da história, existe uma necessidade de explicar Teth-Adam (que mais tarde assume a alcunha de Adão Negro), e suas ações violentas, e fatais. Ele tem necessidade/ prazer em matar, e não entende o mundo dividido entre os bons e os maus, inclusive leva para seus diálogos os anseios do público quanto aos vilões: Por que poupar a vida de um vilão, que voltará a aterrorizar?

Filme abraça fórmula dos blockbusters
Esta construção de princípios morais parece fazer parte de um novo plano da DC para explicar o óbvio a uma plateia quase infantil de espectadores, que se acostumou (e pregou como modelo a ser seguido) o jeito Marvel de fazer cinema: que é tratando o espectador como burro, e tornando-o incapaz de ver camadas e ter uma percepção além dos efeitos (Histórias complexas nos últimos anos foram tratadas como ruins, basta lembrar do insucesso de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça, que se opunha à fórmula fácil do Homem de Ferro e companhia).
Não. Adão Negro não é um filme com questões complexas, filosóficas, e que levem à grande reflexão (nisso, a DC aprendeu com a Marvel a nivelar o público por baixo), é apenas um entretenimento, mas um bom entretenimento, boa direção de cenas, boa trilha sonora, e uma qualidade impecável de efeitos visuais (tal qual Zack Snyder, o diretor Jaume Collet-Serra abusa da câmera lenta) e sonoros que talvez nenhum outro filme do DCEU tenha tido anteriormente.

Por falar em DCEU, muito se noticiou sobre Adão Negro ser uma espécie de reboot de todo o universo: Não é. Ele flerta com personagens, e enredos de filmes anteriores estabelecendo uma ligação sutil, que faz de Johnson sim, um possível condutor das próximas histórias – muito mais atrás das câmeras, com sua produtora Seven Bucks, do que na frente delas (já que em tempos de mudanças de donos, a Warner busca uma espécie de Kevin Feige próprio para guiar a DC Films).
Vale lembrar ainda que a DC nos cinemas enfrenta uma estranha resistência, e isso pode ser notado através das notas de críticos no Rotten Tomatoes (há até quem diga que o filme só é bom porque não quis ‘lacrar’), que passou a ser tornar não confiável à medida que crescia. O filme vale a atenção do público e cada minuto de suas 2 horas.
Observação: O alívio cômico é moderado e fica por conta de Noah Centineo, que não faz feio mesmo em situações insossas do roteiro.
Observação 2: Adão Negro manteve um elemento comum às animações da DC: Um letreiro com a localização e data dos eventos em várias cenas.
*João Paulo Reis
E nosso veredicto de Balde de Pipoca foi:
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