Vítimas de ex-preparador de elenco da Globo falam sobre abuso: “Quem iria acreditar em mim?”

Vítimas do acusado falaram da dificuldade de acreditar que alguém influente como ele seria levado à justiça

Vítimas do ex-preparador de elenco da TV Globo, Sergio Penna, que estão entre as ex-alunas de seus cursos de atuação, que o acusam de importunação sexual, Ramayana Régis e Julia Corrêa desabafaram sobre seus motivos para não denunciá-lo antes.

As duas mulheres conversaram recentemente com o site Universa, e destacaram a dificuldade de ver a justiça sendo feita quando o agressor tem poder.

“Essa é uma história muito dolorosa e em vários momentos somos silenciadas, especialmente denunciando uma pessoa influente. Mas gostaria que ele fosse parado, forçado a sair do mercado de trabalho, porque ele é uma ameaça para qualquer jovem atriz”, salientou Ramayana.

Ambas se mudaram para o Rio de Janeiro, quando tinham 20 e poucos anos, para realizar o sonho de seguir carreira na atuação, sonho que acabou sendo destruído pelo acusado.

“Eu estava construindo meus primeiros projetos, abrindo caminhos interessantes, mas, por conta do que aconteceu, todas as portas se fecharam”.

“Foi uma situação em que só estávamos eu e ele e, de qualquer forma que eu tentasse sair dali, seria desfavorável para mim. Qualquer tentativa de me impor poderia colocar minha carreira em risco. Se eu contasse, quem iria acreditar em mim?”, Ramayana desabafou.

Bruno Gagliasso, Sergio Penna e Débora Falabella (Reprodução/Twitter)

O trauma foi extremamente impactante na vida dela, tanto que acabou a afastando quase definitivamente de algo que ela amava muito.

“Passei algumas semanas em estado de choque, sem saber o que fazer. Chorava todas as noites, aquilo me consumiu. Chegou um momento em que falei: ‘Não quero mais nada que esteja ligado à arte’”.

“Eu não podia ouvir falar de atuação, de teatro. Tinha desistido de vez da carreira de atriz”, ela relembrou.

Três anos depois ela conseguiu voltar a atuar e, atualmente, com 33 anos de idade, ela trabalha como produtora musical, mas também se apresenta na companhia Nós do Morro.

Já Julia Correia, não só sofreu o abuso, mas também presenciou o acusado fazer o mesmo com outras jovens como ela, quando trabalhou para ela como assistente em seus workshops

“Ele dizia que a gente tinha que deixar esse toque acontecer, que tinha que ser muito livre. Vi muita coisa. Selinho, tapa na bunda. E a gente sentia culpa se não visse aquilo com naturalidade. Esse é um discurso muito comum no meio, e ele se aproveitava disso.

“Também vi garotas com a mão na genitália dele e não sabia até que ponto aquilo era consentido ou não”, ela contou.

Sérgio Penna ministrando um de seus cursos de atuação (Reprodução/Twitter)

Assim como Ramayana, ela temeu o que poderia acontecer com ela caso ela denunciasse o preparador de elenco e acabou desistindo da carreira.

“É muito difícil fazer uma denúncia dessas. Eu sabia que estava colocando a minha carreira em risco e resolvi desistir, mesmo. Não fazia sentido viver em um ambiente em que o abuso psicológico e sexual é tão frequente”, ela explicou.

Seis anos se passaram, e atualmente com 29 anos de idade e trabalhando com marketing, ela sofre com sequelas do trauma pelo qual passou.

“É difícil, porque me dediquei durante anos às artes cênicas, mas hoje tenho resistência de voltar ao teatro até para assistir a uma peça”, ela admitiu.

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