Séries da Netflix adotam nova realidade e casais não terminam “felizes para sempre” juntos

Pode ficar tranquilo que o texto a seguir não tem spoilers. Ele fala das séries de um modo geral e não destrincha nenhuma história em específico. A foto da capa apenas descreve uma situação que tem se repetido na Netflix.

Ainda não faço ideia sobre com quem Emily termina em Paris, se é que ela vai terminar com alguém. Nas últimas produções, esse tipo de dúvida acabou ficando irrelevante para quem acompanha e o Streaming já percebeu isso.

A questão é que, assim como nas novelas, a plataforma vem apostando em triângulos amorosos em suas produções. Mas de um jeito bem atual. Não há mais aquele velho modelo dos contos de fadas em busca do ‘felizes para sempre’.

Até poucos anos atrás, boa parte das histórias traziam casais enfrentando problemas ao longo de toda a narrativa. Era tudo resolvido de um jeito muito simplório. Elas refletiam superficialmente a realidade das gerações antigas.

Elas legitimavam os velhos arranjos familiares e romantizavam esse estilo de vida. Promoviam a rivalidade feminina na disputa por um homem que se tornava perfeito até mesmo em suas inúmeras imperfeições problemáticas.

De um lado, mulheres incorretas que eram capazes de tudo para valorizar e validar sua auto percepção com base nesse tipo de conquista. Do outro, mulheres tidas como exemplo de vida e ganhavam o tal homem como recompensa por isso.

Era isso que vendia porque alimentava o sonho utópico de toda uma sociedade que sofria com esse tipo de normalidade, mesmo sem saber. Hoje, muita coisa mudou e caminhamos para que as pessoas não se identifiquem mais com isso.

Histórias mais próximas das novas gerações

As novas gerações já perceberam que as coisas não funcionam e nunca funcionaram assim. Diante disso, a Netflix se mostra cada vez mais conectada com a atualidade e suas infinitas complexidades.

A séries têm refletido as coisas exatamente como são. Possuem uma visão mais realista, mas sem perder a sensibilidade, a conexão entre os casais.

Boa parte delas já naturalizou as partidas ao ponto de não existir todo aquele drama em cima das despedidas. Isso porque nada é para sempre, nem mesmo as partidas.

Não existe mais a falsa ilusão de que o final de uma temporada ou de uma história por completo significa que eles encontraram a felicidade eterna.

Agora, ficam muitas coisas em aberto, o que facilita possibilidade de continuação, no caso das que ganham extensões. Com isso, é reforçado o conceito de que os ciclos são fechados, mas a vida continua.

Tudo é muito bom enquanto dura, ao longo da série, mas o fato dos casais não terminarem juntos não significa que o final foi triste. Ao contrário, mostra o quanto eles aproveitaram os momentos alegres e difíceis ao longo da história.

Netflix conecta diretamente as histórias com o público

Tudo tem ficado cada vez mais próximo das novas realidades. Nada é fixo, tudo é fluido e flexível. Agora, o final é o recomeço de novas histórias, novas possibilidades, novos rumos, nos deixando com aquela dúvida:

“Que caminho será que aquele personagem seguiu depois daquela viagem? Será que conheceu alguém? Ou talvez reencontrou aquela pessoa? Será que…”.

A falta de obviedade deixa tudo mais excitante, mais instigante. Sempre tive dificuldade com ciclos inacabados, com a falta de algo concreto. Com a falta de rótulos ou com os sumiços que a gente nunca sabe se são para sempre ou não.

Mas foi justamente esse novo significado que as séries atribuíram aos finais que me fizeram perceber que, na real, não existem finais. Cada encerramento de ciclo é apenas o início de outros para ambos os lados.

Em algumas das últimas séries que vi na própria Netflix, o casal tem tudo para chegar ao fim junto. Mas nos últimos minutos, a realidade mostra que as diferenças entre as prioridades devem ser respeitadas. O agora foi aproveitado.

Uma das personagens vai estudar em outra cidade, alguns deles fazem uma viagem dos sonhos, outros passam a focar nas oportunidades profissionais e ainda outros simplesmente não estão a fim de um relacionamento.

Trocando o sempre por pequenos infinitos

Esperar que algo seja para sempre é incrível nos primeiros momentos, mas essa expectativa vem carregada de ansiedades. Entender que o sempre não existe pode reduzir os efeitos colaterais causados pelos choques de realidade.

A parte boa é que podemos aproveitar ainda mais intensamente cada um dos pequenos momentos. Os sentimentos não se baseiam pela métrica de dias.

Uma experiência de três horas com alguém vai acabar em algum momento, mas dentro desse espaço de tempo, há instantes infinitos que podem ser eternizados no coração.

A experiência de mais dias terá um espaço um pouco maior, mas a dor não será superior ou inferior por causa disso. Ela continuará existindo. Até mesmo o relacionamento de uma vida toda não será para sempre em seu espaço de tempo.

As partidas não estão sob nosso controle, mas a diferença que fazemos na vida das pessoas que amamos está. Compreender a situação não significa que não haverá sofrimento, mas que, após respeitar o período de reclusão, a vida continua.

Se a vida nunca teve compromisso com a coerência, as histórias que a retratam, seja em séries, filmes ou novelas, também não precisam ter.

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