CRÍTICA: O Poder e a Lei é a série confortável e imperfeita que a Netflix precisava para se reerguer

Adaptação de livros famosos pode ser a salvação do streaming, por ser barata e familiar ao espectador

Sem grande alarde a Netflix lançou a primeira temporada completa de O Poder e a Lei (The Lincoln Lawyer), baseada nos livros de Michael Connelly. A primeira coisa que precisa ser dita é que a série não se propõe a ser um remake, ou sequência do filme de mesmo nome protagonizado por Matthew McConaughey em 2011. É apenas uma nova leitura do mesmo personagem, com algumas leves mudanças em seu enredo.

A série dá um salto e ignora os eventos do primeiro livro como se ele nunca tivesse existido e passa a se concentrar no segundo, para contar a história de Mickey Haller (Manuel Garcia-Rulfo), advogado que ficou um ano longe dos tribunais depois de admitir que era um viciado em oxicodona (opioide indicado para tratamento de dores intensas). Enquanto nos livros, ele é baleado, no streaming, o protagonista sofreu um acidente enquanto surfava.

A grande característica do personagem no entanto foi mantida, ele odeia escritórios, e prefere o banco de seu carro, enquanto passeia pela cidade, inclusive, ele tem uma coleção deles.

Manuel Garcia-Rulfo como Mickey Haller em O Poder e a Lei
Manuel Garcia-Rulfo como Mickey Haller em O Poder e a Lei (Divulgação/ Netflix © 2022)

O grande evento do primeiro episódio acontece quando repentinamente, o profissional é chamado para o gabinete de uma famosa juíza, e descobre que um colega de profissão, considerado um dos mais renomados advogados do país, foi assassinado na noite anterior, e deixou todos os seus casos para ele numa procuração assinada dez dias antes.

Entre todos os casos que Mickey herdou, um chama atenção: o de um famoso empresário (Christopher Gorham), e dono de uma das maiores empresas de videogames do mundo, acusado de matar a esposa e o amante dela, um instrutor de yoga.

Christopher Gorham como Trevor Elliot, Manuel Garcia-Rulfo como Mickey Haller em O Poder e a Lei
Christopher Gorham como Trevor Elliot, Manuel Garcia-Rulfo como Mickey Haller em O Poder e a Lei (Lara Solanki/ Netflix © 2022)

A premissa da série não tenta mostrar de cara uma interação entre advogado e cliente, pelo contrário, mostra que o personagem precisa conquistar o potencial cliente que não aceita mais adiar seu julgamento.

Pessoa pública, ele teve sua vida destruída, e sua empresa desabando ao seu redor, e precisa provar para todos que é inocente, a grande promessa do protagonista. Excelente advogado, ele precisa de carisma dobrado para tentar provar sua capacidade de ser um bom pai, tanto para a filha adolescente Hayley (Krista Warner), quanto para sua primeira esposa, a promotora linha dura, Maggie (Neve Campbell).

Neve Campbell como Maggie McPherson em O Poder e a Lei
Neve Campbell como Maggie McPherson em O Poder e a Lei (Lara Solanki/ Netflix © 2022)

A série da Netflix adota um tom quase divertido para as interações entre os personagens, que lembra outras séries policiais, mas sem aquele peso de suas colegas Law & Order ou How To Get Away With Murder.

É um programa confortável justamente por ser tão familiar ao telespectador médio, e ao mesmo tempo despretensioso. Não há nada grandioso, cenários, locações, enredos, mistérios – absolutamente nada, o que faz da atração algo ainda melhor e mais fácil de assistir.

Manuel Garcia-Rulfo como Mickey Haller em O Poder e a Lei
Manuel Garcia-Rulfo como Mickey Haller em O Poder e a Lei (Divulgação/ Netflix © 2022)

É importante lembrar quem está por trás da série: David E. Kelley, roteirista queridinho por conseguir sucessos de popularidade como Big Little Lies, Nove Desconhecidos, e Anatomia de Um Escândalo.

O autor volta afiado naquilo o que praticou por anos em outras séries como Ally McBeal, e Harry’Law: fazer diálogos impactantes e viradas em cenas de julgamento, e nesse momento a junção entre bom roteiro e boa direção, fazem Manuel Garcia voar, e mostrar por que conseguiu o papel.

Mas se a série está longe de se tornar obra-prima, também está longe de atingir a perfeição. Algumas sub-tramas são mal desenvolvidas, assim como muitos casos do advogados parecem jogados ao leu quando o arco principal ressurge para além do pano de fundo.

Cartaz de O Poder e a Lei
Cartaz de O Poder e a Lei (Divulgação/ Netflix)

Tal qual uma novela das sete da Globo, que o telespectador liga a TV automaticamente ao chegar do trabalho, e começa a fazer qualquer outra coisa, O Poder e a Lei, talvez exerça o mesmo nos aficionados pelo serviço de streaming – que em declínio poderia apostar mais nesse tipo de conteúdo, e menos em pirotecnias hypadas como Stranger Things.

PS: Para se adequar aos novos tempos de representatividade, a origem latina do personagem foi colocada em primeiro plano, diferente de suas outras versões.

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