Baseada na obra de Cecelia Ahern, Rugido, série da AppleTV+ que acabou chocando alguns desavisados com seu conteúdo, e pegando o público de surpresa. O programa que é produzido e tem um episódio protagonizado por Nicole Kidman, tem em seu estranho modo literal de contar histórias, um de seus maiores méritos.
Chamada de ‘Black Mirror feminista’, a série tenta exatamente desnudar a alma feminina em cada antológica história.
Nicole por exemplo interpreta uma mulher que vai levar a mãe, que sofre de demência para morar consigo, elas nunca se deram bem, mas serão forçadas a conviver juntas, e enquanto mágoas, angústias e desejos de poder fazer pela mãe o que nunca fez se alternam, a protagonista do episódio passa a comer, literalmente, fotografias antigas para reviver momentos e sensações que teve na época em que as imagens foram feitas.
Desconcertante para dizer o mínimo, mas não menos que o episódio em que uma estudante de mestrado, cansada de homens decide ter um relacionamento com um pato, que a conquista fingindo ser feminista.
A série se propõe a contar as histórias de mulheres que muitas vezes se sentem invisíveis perante os seus, ou à sociedade. As histórias exploram relações de trabalho, e a incapacidade do mundo corporativo aceitar que uma mulher seja mãe, e que isso não afete seu trabalho, assim como explora a ótica de um casamento fracassado na história da mulher que devolve o marido tal qual uma mercadoria.
A “bizarrice” das histórias pode sim assustar, mas tudo é feito de forma intrigante, para levar o público à reflexão mesmo que da forma mais estranha. Alguns episódios não chegam a 30 minutos de narrativa, porém, a mensagem sempre está lá, muitas vezes explicada de forma que não dá o menor o espaço para que o espectador tire sua própria conclusão.
As feridas dessa mulheres são abertas e expostas, e infelizmente por se tratar de uma série que em cada episódio tem uma equipe de roteiro por trás, Rugido se torna não linear.
A proposta de fazer as mulheres rugirem está clara desde a abertura de cada episódio, porém, se é o feminismo a essência da série, por que faltam mulheres trans ou mesmo mulheres que não sejam heterossexuais em seus episódios? É uma lacuna que talvez seja preenchida pela segunda temporada, se houver uma.
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